Só não há - diz o poema - guarda-chuva contra o poema, " subindo de regiões onde tudo é surpresa/como uma flor mesmo num canteiro". E também não há guarda-chuva contra o amor, nem contra o tédio, nem contra o tempo.
Nem contra o mundo, anota João Cabral de Melo Neto: "Não há guarda-chuva/ contra o mundo/ cada dia devorado nos jornais/sob as espécies de papel e tinta".
E esse é o elemento perturbador nesta reportagem. Ao abrir o guarda-chuva dentro da casa que um jornal também é, na esquina de duas assoalhadas tão sopradas pela crise, a da Economia e a do Mundo (contra o qual nada pode o poema), o armazenista de umbrelas poderá estar chamando a desgraça para um lugar já ameaçado, "sob as espécies de papel e tinta".
Percebe-se a intenção dos repórteres do JN, sacudindo para longe superstição e desalento. É isso que procuramos ao folhear um jornal, ao percorrer as suas assoalhadas: a notícia que se possa abrir como um guarda-chuva imune a todos os sortilégios. Ainda que, tal como o poema de João Cabral de Melo Neto, pouco possa a notícia contra a conjugação dos elementos aziagos.
Fernando Alves escreve no português anterior ao acordo ortográfico.
09-03-2012 - TSF - Sinais (Áudio)
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