Vila Verde: Sá de Miranda recebeu el-Rei

Em tarde quente, que impunha a procura das sombras dos plátanos, o centro de Vila Verde viveu ontem a animação de uma Feira Quinhentista. Damas,fidalgos, moços, falcoeiros, bobos e besteiros encheram a Praça da República, acompanhando a visita de João III que levou consigo toda a Corte.


O rei foi recebido por Sá de Miranda, poeta que depois de viajar por Itália e ter frequentado a Casa Real resolveu, diz-se que desiludido com as intrigas cortesãs, procurar o bucolismo das margens do rio Neiva e do Cávado.
A representar o rei, a rainha e o poeta estiveram professores de estabelecimentos de ensino de Vila Verde que prepararam desde Outubro este evento, levando consigo, em maior quantidade, os alunos. Centenas, trajados a rigor desfilaram pela vila e subiram ao palco erguido junto à biblioteca.

Entre a multidão quinhentista, também o presidente da Câmara, António Vilela e a vereadora da Cultura, Júlia Fernandes, e ainda presidentes de Junta de Freguesia desfilaram vestidos à moda do século XVI.
“Não queremos dizer que o Sá de Miranda é nosso. Ele é nosso como é de Coimbra, como é de Amares, como é do mundo”, disse ao 'Correio do Minho' a vereadora, considerando que o poeta renascentista tem sido esquecido em Portugal, embora seja estudado no Brasil e em outros países da Europa.

Vendo na visita do rei ocasião de negócio, o centro de Vila Verde acolheu tendas especializadas, como a Tasquinha de Bruxelas (mais provável porventura uma de Bruges), onde se vendiam entre outras iguarias frango e pataniscas.
Mais adiante, outra tenda, da zona centro do país, propunha uma saborosa cerveja de receita caseira.

Talvez tenha sido nesta ocasião que o poeta, desgostado com o abandono da Pátria em benefício das aventuras marítimas, escreveu:

“Não me temo de Castela,
donde inda guerra não soa;
mas temo-me de Lisboa,
que, ao cheiro desta canela,
o Reino nos despovoa”.

23-05-11 - Correio do Minho

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